“Drones”, os bombardeiros (e aviões-espiões) sem tripulação dos EUA


Conheça os “drones”, os bombardeiros (e aviões-espiões) sem tripulação

Implacável: com mísseis guiados por laser, o Predador é o preferido por causar poucos danos colaterais
Implacável: com mísseis guiados por laser, o bombardeiro não tripulado Predador é o preferido por causar poucos dos chamados "danos colaterais" (Foto: Divulgação)
O esconderijo foi pelos ares
Entre identificar e destruir um alvo inimigo dos Estados Unidos mundo afora, a CIA precisava de três dias. Agora, com os aviões não tripulados, os drones, bastam cinco minutos. Há 7 000 deles em operação.
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Um avião sem piloto atuando nos céus do Iraque em 2009
De altitudes que podem chegar a 18.000 metros – quase o dobro da usada pelas aeronaves comerciais -, os bombardeiros não tripulados, os chamados drones, identificam veículos e pessoas no chão em questão de segundos. O que vem em seguida pode ser uma surpresa desagradável. Um disparo preciso, e o inimigo é eliminado.
Por sua eficácia, os drones tornaram-se a arma por excelência da guerra aérea. NO dia 20 de outubro passado, quando o ditador líbio Muamar Kadafi fugia da cidade de Sirte em um comboio, foi um dronePredator, americano, que primeiro disparou um míssil e interceptou os carros.
Em setembro, um drone do mesmo tipo enviou um projétil contra o carro de Anwar al Awlaki, o americano de origem árabe que estimulava ataques terroristas a partir do Iêmen. Ele e mais três morreram. Antes da execução de Osama bin Laden, em maio de 2011, um drone vigiava os passos do superterrorista saudita dentro de sua fortaleza no Paquistão.
Todos esses fatos ocorreram no intervalo de seis meses. Nos últimos dez anos, mais de 2 000 terroristas sentiram o céu cair em sua cabeça por obra da CIA, a agência de inteligência americana. Com 7 000 aparelhos em operação, não há canto no mundo onde eles possam se esconder para sempre.
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Kadafi teve seu comboio interceptado por um drone, ao tentar fugir de Sirte; Anwar al Awlaki foi morto por um Predador, quando voltava de carro de um funeral no Iemên; e Osama Bin Laden teve sua casa no Paquistão vigiada por um drone durante meses
No século XIX, balões lançavam bombas sobre o inimigo
A palavra drone, em inglês, quer dizer zangão. A imagem de um inseto sem ferrão tem pouco em comum com essas aeronaves, equipadas com mísseis e bombas guiadas a laser. O X-47B, um protótipo americano, poderá levar até 2 toneladas de bombas. Não se trata de uma ideia nova.
O primeiro uso de uma aeronave não tripulada carregada com armas letais data de 1849. Nessa época, os austríacos, que controlavam grande parte da Itália, lançaram 200 balões contra Veneza. Cada um levava 15 quilos de explosivos, os quais eram acionados após meia hora, por meio de cronômetros rudimentares.
Soldados empinavam os balões e os soltavam quando sentiam um vento favorável. Como a natureza nem sempre colaborava, alguns voltaram para a Áustria.
A tecnologia foi aprimorada no século passado e virou tendência.
Como parte do esforço para conter o terrorismo islâmico em regiões inacessíveis e perigosas do Iêmen ou do Afeganistão, os dronestornaram-se ferramentas indispensáveis. Com o recurso de um deles, o ataque pode acontecer cinco minutos depois de identificada uma vítima. Na Guerra do Golfo, em 1990, o mesmo processo consumia três dias.
Mesmo sob pressão para diminuir os gastos governamentais e militares, o presidente americano Barack Obama não pretende reduzir o investimento em drones. O Pentágono pediu um orçamento de 5 bilhões de dólares para desenvolver e produzir essas máquinas até o final de 2012. Como os drones não põem a vida de americanos em perigo, a chance de a verba ser aprovada é grande.
A ausência de pilotos e suas vantagens
A ausência de pilotos também traz outros benefícios para quem utiliza os bombardeiros ou aviões-espiões sem tripulação. Como não é preciso reservar espaço para o piloto ou inserir equipamentos de segurança, osdrones são muito mais leves. Um caça F-18, como o que estava sendo avaliado para ser comprado pelo governo brasileiro, pesa cinquenta vezes mais que um Predator.
Menores, alguns drones podem ficar dois dias nas nuvens sem ser reabastecidos. As novas exigências feitas aos futuros pilotos sinalizam que essas aeronaves são o futuro da aviação de guerra. A aeronáutica americana hoje treina mais pilotos para dirigir drones em confortáveis poltronas de bases americanas do que para subir em caças de última geração.
O setor de aviões não tripulados é o mais dinâmico da indústria aeroespacial. Em 2011, foram gastos 6 bilhões de dólares com drones. Em 2012, será o dobro, de acordo com a consultoria americana Teal Group.
Há aparelhos de todos os tamanhos e funções. O Aerostat, por exemplo, é um dirigível de 60 metros de comprimento capaz de planar por meses a uma altitude de 4 000 metros preso a um cabo. Atualmente, monitora a fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão. Já o Hummingbird (beija-flor, em inglês) tem 16 centímetros de envergadura e pesa 19 gramas. Pousa em parapeitos de janela e capta imagens com uma minicâmera. Está pronto e deve ser alistado nesta década.
Servem também para checar radioatividade ou auxiliar a polícia. O Brasil os utiliza
Muitos dos que já estão em uso passam longe das casas dos terroristas.
Em junho, um pequeno aparelho sobrevoou a central nuclear de Fukushima, no Japão, para medir o nível de radioatividade. Aparelhos equipados com câmera de visão noturna são acionados rotineiramente para vigiar os mais de 3 200 quilômetros de fronteira entre Estados Unidos e México.
A polícia da Inglaterra já adotou drones em um dos maiores festivais de música do país, o V. O equipamento avisava à polícia quando criminosos tentavam arrombar veículos no estacionamento.
O Brasil também já possui drones em ação. O Exército monitora a Amazônia com eles, enquanto a Polícia Federal os utiliza no combate ao tráfico de drogas pelas fronteiras com a Argentina e com o Paraguai. Um acordo está sendo negociado com a Turquia pela presidente Dilma Rousseff para desenvolver drones nacionais, os “vants”: veículos aéreos não tripulados.
Eles também matam civis inocentes
A principal crítica aos drones é quanto à morte indesejada de civis. Um estudo apontou que uma em cada três vítimas de ataques de Predators no Paquistão entre 2004 e 2010 era civil. O problema, naturalmente, é que distinguir um homem comum de um criminoso ou terrorista sempre representa dificuldade.
Muitas vezes, não é assim. Um vídeo feito por um avião não tripulado e divulgado na internet pela Força Aérea americana, sem data, mostra um carro sendo alvejado por um míssil no Iraque ou no Afeganistão. Em seguida, homens que estavam ao redor correram para a carcaça do automóvel, pegaram as armas dos mortos e as jogaram em um rio. Para o policial que chegasse depois ao local, os ocupantes do veículo seriam considerados civis. Para o drone, não.
A única coisa que os terroristas temem agora é que o céu caia sobre sua cabeça.
Ataque certeiro
O avião bombardeiro não tripulado, drone, recebe ordens de qualquer lugar do globo, por meio de satélites. Armado de mísseis guiados por laser, raramente erra o alvo
1. De uma base militar em território americano, o piloto dá a ordem para iniciar o voo
2. Em um país próximo ao destino, o drone se posiciona na pista. A decolagem é automática
3. Quando o aparelho já está no ar, o piloto assume o comando. Ele se comunica com a aeronave por satélites. Se a conexão cair, o avião retorna à base
4. No destino, as câmeras e os sensores de visão noturna e de movimento passam a ser controlados por um operador dos Estados Unidos. As lentes reconhecem rostos no solo
5. Uma vez identificado um rosto, os sensores rastreiam o indivíduo por 230 metros, automaticamente
6. Com o alvo na mira, o piloto dispara. O míssil mais utilizado é o Hellfire, de 40 quilos. Guiado por laser, ele acerta o alvo em cheio e nem sequer abre crateras no chão
7. Após o ataque, o drone permanece na área, coletando novas imagens. Depois de certificada a conclusão da missão, retorna à base
(Reportagem de Julia Carvalho e Tatiana Gianini publicada na edição impressa de VEJA de 02 de novembro de 2011)
Veja fotos de vários tipos de drones em atividade pelo mundo:
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Aparelhos deste tipo são usados sobretudo no Iraque e no Afeganistão (Joel Saget / AFP)
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"Drone "em base dos EUA: empresas travam batalha para conquistar um mercado bilionário (Foto: Getty Images)
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Outro tipo de aparelho não tripulado usado pelos EUA no Iraque (Getty Images)
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Um dos modelos pequenos e leves, o Shadow 200 UAV (Foto: James B. Smith Jr. / U. S. Army)
Israeli Troops Showcase Rapid Launch Surveillance Drone
Parece um aeromodelo acoplado a um balão, mas é um avião espião não tripulado utilizado pelas Forças Armadas de Israel (Foto: Uriel Sinai/Getty Images)
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Israeli Troops Showcase Rapid Launch Surveillance Drone
Outro modelo de miniavião-espião utilizado por Israel (Foto: Uriel Sinai/Getty Images)
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Homeland Security Begins Using UAV For Border Patrol
O Departamento de Segurança Interna dos EUA utiliza artefatos como o da foto para patrulhar a fronteira com o México (Foto: Elbit Systems / Getty Images)

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